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HEMATOMAS EM DOENTES ANTI-COAGULADOS- ESTUDO RETROSPETIVO COM ANÁLISE DESCRITIVA DOS DOENTES INTERNADOS NUM SERVIÇO DE MEDICINA INTERNA
Doenças hematológicas - Comunicação
Congresso ID: CO088 - Resumo ID: 922
Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Clínica Universitária de Medicina Interna, FMUC
Sofia Gomes Brazão, Ricardo Ferreira, Joana Duarte, Ricardo Mendonça, Sara Leitão, Rui Santos, Armando Carvalho
Introdução: Os hematomas são complicações hemorrágicas frequentes, na sua maioria de resolução espontânea. Ocasionalmente, podem exigir vigilância em internamento e nalguns casos tratamento invasivo. Nos últimos anos a prescrição dos non-vitamin K antagonist oral anticoagulants (NOAC’s) aumentou consideravelmente. Menos interações medicamentosas e a ausência de necessidade de monitorização regular, são dos fatores que mais contribuem para o seu uso crescente. Por outro lado, a dificuldade em reverter o efeito anticoagulante e a necessidade de ajuste de dose em caso de taxa de filtração glomerular (TFG) reduzida
(<50ml/min) limitam o seu uso, em especial no doente idoso.
Objectivo: Caracterizar os doentes internados que desenvolveram hematomas sob anticoagulação.
Métodos: Análise retrospectiva das cartas de alta dos doentes internados num Serviço de Medicina Interna entre Fevereiro de 2018 e Fevereiro de 2019 selecionadas pela palavra-chave hematoma. Foram excluídos os doentes não hipocoagulados.
Resultados: Dos 214 doentes identificados com hematomas, 54 (25,2%) estavam sob anticoagulação: 37 (68,8%) sob NOAC, 13 (24, 5%) sob Varfarina e 3 (5,7%) sob Enoxaparina. O anticoagulante mais utilizado nesta foi o Apixabano (43.4%). Trinta e seis (66.7%) eram mulheres, a idade média foi de 82,1 anos e o principal motivo para anticoagulação foi a fibrilhação auricular (94,3%). Do total, 64.2% dos hematomas estavam presentes à admissão, mas só em 6 doentes (11,3%) foram motivo de internamento. Quanto à etiologia, 50,9% foram identificados como espontâneos e 9,25% associados a procedimentos (implantação de pacemaker, tromboembolectomia e extração dentária). Quanto à localização, 22,6% eram no crânio, 17% no abdómen, 13,2% nos membros superiores e em menor percentagem noutras localizações. Necessitaram de tratamento invasivo 11,1%, sendo que destes, a grande maioria (83,3%), estava medicada com NOAC’s em dose ajustada à TFG. Durante o internamento, o anticoagulante habitual foi substituído por Enoxaparina na maioria dos doentes. O doseamento do NOAC foi feito em apenas 5 casos: o doseamento do Edoxabano foi realizado ao 5ºdia após suspensão, sendo ainda doseável; o Apixabano foi doseado em 2 doentes, ao 5º
e ao 12ºdia após suspensão, sendo em ambos detetado; e o Dabigatrano foi possível dosear 3 dias após a suspensão. No momento da alta, 22% ficou sem anticoagulante e 20.4% com outro. Nenhum doente faleceu em consequência direta destas complicações.
Conclusão: A maioria dos hematomas surgiu em doentes com NOAC. No entanto, na generalidade dos casos estes não condicionaram a situação clínica. Os hematomas mais graves foram maioritariamente em doentes com TFG:<50ml/min também sob NOAC. Quando requisitados os doseamentos dos NOAC’s, estes foram detetáveis mesmo vários dias após a sua suspensão. Questiona-se a importância do doseamento destes fármacos, principalmente em doentes com compromisso da função renal, visto terem maiores complicações hemorrágicas.