Maurício Peixoto, Joana Lopes, Rui Flores, Sofia Caridade, Guilherme Alpedrinha
Introdução
O timoma é uma neoplasia que surge na sua grande maioria no mediastino anterior. Tendem a ser lobulados, firmes e podem conter calcificações ou quistos. Compostos por células epiteliais e um número variável de linfócitos, podem ser completamente encapsulados ou invasivos, afetando os órgãos adjacentes, sendo estes os que mais comummente metastizam, sobretudo dentro da cavidade torácica na forma de nódulos pulmonares e pleurais e, em casos raros, têm metástases hepáticas, cerebrais, ósseas ou mesmo renais.
Caso Clínico
Doente do sexo feminino, 66 anos, autónoma, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, fibrilação auricular e depressão, recorreu ao serviço de Urgência por dor pleurítica com 3 semanas de evolução, que agravava com o decúbito dorsal, associada a astenia, náuseas e anorexia. Negava outra sintomatologia. Em visita prévia ao SU pelas mesmas queixas realizou radiografia torácica que mostrou hipotransparência à esquerda e análises com elevação dos parâmetros inflamatórios. Teve alta medicada com antibioterapia empírica para pneumonia adquirida da comunidade, mas o quadro apresentado pela doente manteve-se. Ao exame físico encontrava-se subfebril, com sons respiratórios diminuídos nas bases. Analiticamente, por apresentar D-dímeros aumentados, realizou angio-TAC torácico que não mostrou sinais de tromboembolismo pulmonar, mas sim uma massa de 6 cm no mediastino anterior e superior que poderia corresponder a timoma. Foi internada para estudo da massa mediastínica, tendo realizado ressonância magnética do tórax que confirmou uma massa de 7cm de maior diâmetro a favor de timoma. Para estadiamento, realizou também uma TAC abdomino-pélvica que mostrou um tumor sólido vascularizado com cerca de 16 mm, na vertente posterior do terço médio do rim esquerdo. Em seguida, realizou biópsia ecoguiada às massas mediastínica e renal, que revelaram um timoma e um carcinoma de células renais, variante de células claras. Os dois tumores foram removidos, estando a doente em vigilância.
Discussão
Tumores tímicos malignos surgem em 1,5 pessoas por milhão por ano e os tumores do rim são cerca de 2% de todas as neoplasias malignas globalmente. No caso que apresentámos, uma massa mediastínica para estudo revelou ser um timoma, já de si um diagnóstico incomum. Ao fazer o estadiamento observou-se uma massa renal que poderia ser um dos raros casos de metástase extratorácica que ocorrem nos timomas. No entanto, a histologia revelou algo ainda mais caricato, outra neoplasia primária, neste caso, um carcinoma de células renais. É caso para dizer que um azar nunca vem só. No entanto, o facto de se tratar de uma nova neoplasia primária melhorou o seu prognóstico do que poderia ter sido um timoma em estadio IV, por metástase extra-torácica, com sobrevivência aos 5 anos de 58%, para duas neoplasias em estadio I com sobrevivências aos 5 anos superiores a 90%.