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ABCESSO ESPLÉNICO POR ACTINOMYCETES – UMA ENTIDADE RARA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P552 - Resumo ID: 931
Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Clínica Universitária de Medicina Interna, FMUC
Sofia Gomes Brazão, Ricardo Ferreira, Joana Duarte, Ricardo Mendonça, Sara Leitão, Rui Santos, Armando Carvalho
Introdução: O abcesso esplénico é uma entidade rara (0,05-0,7%), cuja causa principal é a endocardite infeciosa, por disseminação hematogénea. Raramente estão descritos abcessos após traumatismo, com exceção da cirurgia abdominal. Os microorganismos mais frequentes Steptococcus e Staphylococcus. As infeções por Actinomycetes são extremamente raras e aparecem tipicamente em doentes imunocomprometidos. O diagnóstico é imagiológico e o tratamento inclui antibioterapia e drenagem percutânea, sendo a cirurgia reservada para casos mais graves ou com múltiplos abcessos.
Caso Clínico: Mulher de 79 anos, obesa, parcialmente dependente, admitida no Serviço de Urgência por dor abdominal, febre e dispneia. Referia dor súbita e intensa no hipocôndrio esquerdo (HCE), com irradiação para o flanco ipsilateral, agravada com os movimentos, o decúbito lateral e a palpação, só aliviando em decúbito dorsal. Sem evidência de traumatismo, havia registo de queda sobre o abdómen 2 meses antes. Tinha Insuficiência cardíaca NHYA III, doença valvular grave (insuficiência aórtica, tricúspide e mitral), fibrilhação auricular hipocoagulada com edoxabano e doença renal crónica. Estava queixosa, febril (38,4ºC) e polipneica, com SatO2 86% com FiO2 a 28%. O abdómen era doloroso mesmo à palpação superficial, principalmente no HCE, onde era evidente zona endurecida, de limites mal definidos. Analiticamente: leucocitose com neutrofilia e PCR de 14,6mg/dL, hemoglobina de 11,3g/dL e Creat: 1,57mg/dL (TFG: 33,78mL/min). Rx Tórax com cardiomegalia e suspeita de pneumonia na base esq; a ecografia e TC-abdominais revelaram 2 coleções líquidas heterogéneas, uma na parede abdominal e outra no polo inferior do baço, não sendo os exames concordantes quanto à etiologia. Com as hipóteses de pneumonia, quisto esplénico e hematoma da parede abdominal, foram colhidas hemoculturas. Pela possibilidade de sobreinfeção dos hematomas iniciou antibioterapia de largo espectro com meropenem e metronidazol. Houve melhoria da dor abdominal e dos parâmetros inflamatórios, o ecocardiograma não identificou vegetações, mas o aumento das lesões abdominais (a maior com 4,5cm) justificou drenagem percutânea. Foi colhido pús espesso de cor acastanhada, cujo exame direto evidenciou muitos bacilos Gram+ do grupo Actinomycetes. Apesar da boa resposta inicial a doente faleceu ao 11º dia de internamento.
Discussão: Sendo os abcessos esplénicos uma entidade rara, o seu diagnóstico é difícil, exigindo elevado grau de suspeição. Numa doente hipocoagulada, uma queda recente corrobora a hipótese de hematoma e a síndrome febril e dor intensa a possibilidade de infeção. Contudo, na ausência de cirurgia abdominal e imunodepressão, a infeção por Actinomycetes é extremamente improvável. Pelo tempo de intervalo e dimensão das lesões, fica por esclarecer a importância do traumatismo e o efeito da anticoagulação na sua etiologia. A hipótese de endocardite é improvável, mas só o eco-transesofágico teria possibilitado a sua exclusão.