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COMO CURAR A HIPERTENSÃO – UM CASO CLÍNICO DE HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P180 - Resumo ID: 934
Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho
Mariana Fidalgo, Dulce Pinheiro
INTRODUÇÃO
O hiperaldosteronismo primário é uma causa subdiagnosticada de hipertensão arterial [HTA], responsável por 5-13% dos casos. Classicamente cursa com HTA e hipocalemia, embora esta seja um achado inconsistente (apenas 9-37% doentes). O diagnóstico é clínico e analítico, com eventual recurso a exames de imagem para determinação do subtipo e exclusão de lesão neoplásica.

CASO CLÍNICO
Homem de 38 anos, caucasiano, enviado a Consulta de Medicina Interna por HTA grave conhecida há 3 anos. Medicado com 4 fármacos de diferentes categorias em dose otimizada. Antecedentes: fatores de risco vascular - excesso de peso, tabagismo com cessação recente, SAOS, alcoolismo passado e esteatohepatite.
Exame físico na 1ª consulta: IMC=29.4kg/m2 e tensão arterial [TA] 141/95mmHg. Sem outras alterações.
Exames complementares para exclusão de causas secundárias de HTA:
- MAPA: valores médios de TA acima da normalidade durante toda a monitorização; média nas 24h, período diurno e noturno, respetivamente: 150/93mmHg, 161/99mmHg e 141/68mmHg.
- Estudo analítico: hipocalemia (3.12mmol/L, embora sob furosemida), diminuição da concentração de renina ativa (1.4pg/mL) e atividade da renina plasmática (PRA=0.1ng/mL/h), elevação da aldosterona (PAC=81.3ng/dL) - ratio PAC/PRA>20.
- TC abdominal: vertente anterior da suprarrenal direita - formação nodular ovóide com 3cm de maior eixo, de contorno regular e densidade heterogénea.
- Cintigrafia das suprarrenais com iodocolesterol: foco de captação anómala e significativamente aumentada na projeção da suprarrenal direita, sem se visualizar a contralateral - possível adenoma da suprarrenal direita.

Doente avaliado por Cirurgia Geral, com proposta de adrenalectomia laparoscópica que decorreu sem intercorrências. Anatomia patológica: nódulo bem delimitado, não capsulado, com hiperplasia nodular com predomínio da camada glomerulosa e extensa metaplasia adiposa.
Follow-up:
- estudo analítico 6 meses após cirurgia: normalização da atividade da renina plasmática 1.2ng/mL/h e concentração de aldosterona 3.1ng/dL; ratio PAC/PRA=2.58.
- 2 anos após a cirurgia suspendeu anti-hipertensores e repetiu MAPA: Valores médios da TA nas 24h, período diurno e noturno, respetivamente: 128/83mmHg, 130/84mmHg e 126/80mmHg.

DISCUSSÃO
As causas principais de hiperaldosteronismo primário são o hiperaldosteronismo bilateral idiopático (60-70%) e os adenomas unilaterais produtores de aldosterona (30-40%). Formas menos comuns incluem, dentre outras, a hiperplasia unilateral, com hiperplasia nodular da zona glomerulosa.
Uma pequena percentagem de doentes com hiperaldosteronismo primário submetidos a tratamento cirúrgico fica curada da sua hipertensão. A probabilidade de resolução completa é mais elevada quanto mais jovem for o doente e quanto menor a duração da HTA. Com este caso pretende-se sublinhar a importância do diagnóstico precoce e da intervenção atempada, minimizando o risco de lesão de órgão-alvo e maximizando a probabilidade de cura.