Unidade de Cuidados Intermédios Médicos, Serviço de Medicina Interna, Hospital São Francisco Xavier - Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa
Mafalda Miranda Baleiras, Diogo Morgado Conceição, Sérgio Brito, Hugo Moreira, Maria José Loureiro, Filipa Ferreira, Rita Calé, Luís Campos
Introdução: O tromboembolismo pulmonar (TEP) é a terceira doença cardiovascular mais frequente e a principal causa de morbimortalidade prevenível a nível hospitalar. A taxa de mortalidade na fase aguda é elevada (7-11%). A disfunção do ventrículo direito (VD) e a instabilidade hemodinâmica são importantes preditores de mau prognóstico. A principal causa de morte é o choque cardiogénico. O TEP de alto risco, definido pela presença de choque ou hipotensão arterial sustentada, requer tratamento emergente e específico. As técnicas convencionais são a trombólise sistémica (TS) e, em alternativa, a embolectomia cirúrgica. As técnicas percutâneas (TP) têm-se revelado promissoras por terem elevada taxa de sucesso com um menor risco de complicações associadas.
Caso clínico: Mulher, 74 anos, com história de hipertensão arterial. Trazida ao serviço de urgência por lipotímia. Apurou-se cirurgia abdominal major nas 2 semanas prévias, altura em que iniciou astenia e dispneia de agravamento progressivo. Ao exame físico, apresentava hipotensão, taquicárdia e polipneia. O electrocardiograma revelou taquicardia sinusal. Analiticamente, apresentava elevação de NTproBNP, D-dímeros e troponina. A gasimetria arterial em ar ambiente revelou hipocapnia, hipoxemia e hiperlactacidemia. Perante a suspeita de TEP, realizou angiografia por tomografia computorizada torácica que confirmou TEP bilateral com extensão lobar e segmentar, com sobrecarga das cavidades ventriculares direitas. A cirurgia major recente constituía uma contraindicação absoluta para TS. Iniciou heparina não fraccionada e foi internada na unidade de cuidados intermédios. Na manhã seguinte, foi submetida a trombectomia aspirativa, com sucesso. Verificou-se melhoria hemodinâmica e gasimétrica progressivas, com alta ao 7º dia de internamento.
Discussão: A abordagem preferencial no TEP de alto risco é a TS. Contudo, a literatura associa-lhe um risco de hemorragia major entre 13% a 21%. Já o risco de morte associado a embolectomia cirúrgica chega a 50%, sobretudo se não for cumprido o timing cirúrgico. É por estes motivos que as TP por cateter, na qual a trombectomia aspirativa se inclui, têm ganho notoriedade. Estas técnicas, com uma acção local e mais inócua, promovem a redução da resistência vascular e, por conseguinte, da pós-carga do VD, melhorando o débito cardíaco com menor risco de complicações. A incidência de complicações major, como o tamponamento cardíaco, é de 2,4%. Os doentes que apresentem contraindicações à TS, ou nos quais esta está associada a elevado risco hemorrágico, são potenciais candidatos às TP. Os resultados são mais satisfatórios se a apresentação sintomática for inferior a 14 dias. Porém, a evidência disponível sobre a eficácia no tratamento percutâneo ainda não está suficientemente estabilizada. De momento, decorrem ainda ensaios clínicos aleatorizados que comparam as TP com a TS, mas cujos resultados provisórios sugerem as TP como alternativas válidas e com menor risco hemorrágico.