Serviço de Medicina Interna, Hospital São Francisco Xavier - Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
Mafalda Miranda Baleiras, Cristina Carvalho Gouveia, Sofia Duque, José Guia, Luís Campos
Introdução: Portugal é o quarto país da União Europeia com maior proporção de idosos. O envelhecimento da população, a par do aumento de doenças crónicas e comorbilidades, pressupõe a utilização de múltiplos fármacos. A polimedicação (6 ou mais fármacos) é um factor de risco para prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados (MPI). Entende-se como MPI aqueles cujo risco de utilização suplanta o potencial benefício terapêutico. Mundialmente, a sua prevalência na população idosa é estimada entre 12 e 40%.
Objectivo: Analisar a prevalência de polimedicação e MPI na população idosa em regime de ambulatório.
Material e Métodos: Estudo retrospectivo dos doentes com idade igual ou superior a 65 anos internados numa enfermaria de Medicina Interna de Janeiro a Agosto de 2018. Foi analisada a terapêutica de ambulatório e identificados MPI, segundo os critérios de Beers de 2015.
Resultados: Foram incluídos 104 doentes, com idade média de 78,5 anos. O número médio de medicamentos por doente à data de admissão foi de 8,3. O tempo médio de internamento foi de 12,8 dias. A polimedicação foi identificada em 78 casos (75%). A prevalência de MPI foi de 73%. As classes farmacológicas de MPI mais prescritas foram inibidores de bomba de protões (IBP, 46%), benzodiazepinas (BZD, 28%) e antipsicóticos (22%). Verificou-se associação entre a polimedicação e a presença de MPI; dos 76 doentes com MPI, 63 (84%) tinham prescritos 6 ou mais medicamentos no momento de admissão. À data de alta, o número médio de medicamentos por doente foi de 9, num universo de 85 pessoas - faleceram 19 indivíduos durante o trabalho de campo.
Conclusões: A prevalência de MPI neste estudo está acima da que é reportada mundialmente. Os MPI neste grupo etário são responsáveis pelo acréscimo de reacções medicamentosas adversas, da probabilidade de hospitalizações e do tempo de internamento. Dentro dos efeitos indesejáveis, destacam-se o aumento do número de quedas e, subsequentemente, de fracturas associadas às BZD. Do mesmo modo, alguns estudos atribuem o desenvolvimento de demência ao uso crónico de IBP. Os critérios de Beers facilitam a prescrição no idoso sugerindo fármacos a evitar e indicando alternativas terapêuticas mais seguras. Assim, seria desejável o treino na aplicação dos critérios de Beers e a construção de ferramentas informáticas para a sua operacionalização na prática clínica. Apesar destes critérios terem sido elaborados inicialmente para a população idosa, doentes jovens com multimorbilidade podem também beneficiar da sua aplicação.