Rita Silva, Pedro Gonçalves Teixeira, Adelaide Dias, Alberto Rodrigues
INTRODUÇÃO: A dissecção aguda da aorta é uma emergência vascular que se carateriza pelo rápido desenvolvimento de um falso lúmen na aorta, com implicações catastróficas. Quando uma dissecção da aorta (DA) tipo A de Stanford se estende até às artérias coronárias, pode ocorrer oclusão completa do vaso resultando em enfarte agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (EAMSST) – entidade rara embora habitualmente fatal.
CASO CLÍNICO: Sexo masculino de 55 anos, sem antecedentes patológicos conhecidos ou medicação habitual, com síncope no domicílio, sem pródromo. Assistido no local, objetivada escala de coma de Glasgow de 3, tensão arterial: 150/80mmHg, taquicardia (114 bpm), eletrocardiograma a revelar taquicardia sinusal e elevação do segmento ST em avR e derivações anterolaterais. Realizada entubação orotraqueal. Durante o transporte para o hospital teve paragem cardiorrespiratória tendo sido iniciado suporte avançado de vida com compressor mecânico externo. Na sala de emergência verificada alternância entre ritmo desfibrilhável (taquicardia ventricular) e não desfibrilhável (atividade elétrica sem pulso). Recuperação transitória de pulso; efetuado ecocardiograma transtorácico subcostal que revelou ausência de derrame pericárdico e disfunção grave do ventrículo esquerdo. Admitido de imediato na sala de hemodinâmica onde foi iniciado suporte mecânico usando oxigenação por membrana extracorporal venoarterial (ECMO-VA). Angiografia coronária: sem evidência de lesões; aortografia revelou dissecção aórtica tipo A de Stanford com extensão até ao óstio da artéria coronária esquerda e insuficiência aórtica moderada a severa. Realizado angioTC toracoabdominal e pélvico: dissecção com origem na raiz da aorta torácica e extensão distal até à ilíaca esquerda com sinais de hipoperfusão esplâncnica. TC cerebral com extenso edema cerebral difuso e hipodensidade difusa de predomínio hemisférico direito a traduzir provável oclusão carotídea. Admitido em unidade de cuidados intensivos. Evolução com disfunção múltipla de órgãos nomeadamente encefalopatia anóxica grave, com progressão para morte cerebral.
CONCLUSÃO: A DA continua a ser um desafio diagnóstico tendo em conta o seu vasto leque de manifestações clínicas. A síncope pode ser a forma de apresentação em cerca de 15% dos doentes com dissecções tipo A. São várias as complicações decorrentes desta patologia nomeadamente insuficiência aórtica aguda grave, síndrome coronário agudo por oclusão dos óstios coronários, síndromes de má perfusão proximais ou distais e tamponamento cardíaco.