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PROTOCOLO DE ATUAÇÃO NO AVC HEMORRÁGICO NUM HOSPITAL SEM NEUROCIRURGIA – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO077 - Resumo ID: 964
Centro Hospitalar de Setúbal
João Alexandre Tavares, Mário Parreira, Ana Emídeo, Patrícia Carneiro, Carolina Palma, Ricardo Pereira, Ermelinda Pedroso
Homem de 39 anos com antecedentes de hipertensão arterial não controlada, obesidade e tabagismo. Recorre ao serviço de urgência do por quadro súbito de náuseas, vómitos e cefaleia intensa, com instalação progressiva de diminuição da força muscular no hemicorpo esquerdo. À admissão com hemiparesia esquerda de grau 2/5 e perfil tensional hipertensivo (230/130 mmHg). TC-CE revelou volumoso hematoma lobar direito agudo com edema perilesional, rutura para o sistema ventricular com significativo efeito de massa, apagamento sulcal difuso do hemisférico direito e desvio da linha média para a esquerda de 8 mm. Apresentava ainda apagamento da cisterna supra-selar, báscula do mesencéfalo e herniação subfalcial anterior. Transferido para Hospital Garcia de Orta (HGO) ao cuidado da Neurocirurgia (NC), tendo realizado drenagem de hematoma, com posterior extubação e transferência para a Unidade de Cuidados Intensivos. Inicialmente com evolução neurológica desfavorável e necessidade de re-intubação para proteção da via aérea. Evolução neurológica lenta, acompanhada de agitação, com necessidade de traqueostomia. Hemiplégia esquerda que, sob reabilitação intensiva apresentou melhoria progressiva, permitindo encerramento da traqueostomia e referenciação para Centro de Reabilitação de Alcoitão. Regressou ao CHS após cerca de 2 meses.

A hemorragia intracerebral espontânea (HIC) representa cerca de 10-15% do total de acidentes vasculares cerebrais, apresentando um prognóstico vital mais sombrio, com uma mortalidade a 30 dias de 35-52%, independente da sua etiologia primária. A rápida identificação, estabilização e orientação destes doentes à luz das recomendações mais recentes é fundamental e tem grande impacto no prognóstico. Este facto é ainda mais verdade em hospitais sem apoio de NC, em que a otimização das medidas médicas é fundamental e os atrasos na transferência destes doentes, muitas vezes por razões não clínicas, pode ser desastrosa. Assim, torna-se essencial a existência de protocolos de atuação clínica rápida e facilmente aplicáveis. Estes devem incluir não apenas a estabilização segundo ABCDE, com a proteção da via aérea à cabeça, mas também as medidas médicas e não médicas de controlo do perfil tensional, reversão da anticoagulação e controlo da pressão intracraniana ou ainda a profilaxia da convulsão e a redução do risco de aspiração. Finalmente é fundamental assegurar a rápida articulação com o hospital de referência com NC, bem como a transferência do doente para tratamento definitivo em caso de indicação e/ou instituição de medidas invasivas de monitorização. Assim, em colaboração com um serviço de NC, estabeleceu-se um protocolo de atuação adequado à realidade clínica dos hospitais sem NC.